" A inquietude não deve ser negada, mas remetida para novos horizontes e se tornar nosso próprio horizonte."
Edgar Morin

domingo, 18 de março de 2018

Gerra Urbana no Rio de Janeiro ameaça INTERVENÇÃO FEDERAL



O desafio para os interventores está cada dia maior diante da escalada de violência no Rio de Janeiro. A morte da vereadora Marielle Franco levantou mais uma vez a discussão sobre a efetividade da ação. Na tentativa de melhorar a segurança no estado, o Gabinete de Intervenção Militar avalia a possibilidade de alterar a jornada de trabalho de policiais militares, aumentando, assim, o efetivo nas ruas. A mudança alteraria o intervalo entre o tempo trabalhado e as folgas.


No entanto, o assunto é delicado. Em setembro do ano passado, a mudança provocou protestos por parte dos policiais. De acordo com o coronel Roberto Itamar, ainda não foram definidas ações para reforçar o policiamento nas ruas, mas a hipótese de alteração de horário da polícia não foi descartada. Diante da trágica morte da vereadora, o coronel Itamar afirmou que “fortalece os objetivos da intervenção” e garantiu que ações serão tomadas — não relacionadas diretamente ao assassinato “inadmissível” de Marielle —, mas para solucionar a crise de segurança como um todo.

Por causa da morte da vereadora, o presidente Temer avalia se antecipará a viagem ao Rio, marcada inicialmente para domingo, a fim de marcar um mês da intervenção, decretada em 16 de fevereiro.

Na manhã de ontem, 580 homens das Forças Armadas e 90 da Polícia Militar realizaram uma operação nas comunidades do Viradouro e da Grota, em Niterói. De acordo com o Comando Militar do Leste, a ação foi deflagrada no contexto das medidas implementadas pela Intervenção Federal na Segurança Pública. A operação visou o cerco, estabilização da área e desobstrução de vias.

Na quarta-feira, militares do Exército realizaram uma inspeção no 14º Batalhão de Polícia de Bangu, na Zona Oeste do Rio de Janeiro. Essa foi a primeira de uma série de vistorias em batalhões e delegacias das polícias Militar e Civil planejadas pelo Gabinete de Intervenção Federal (GIF) para verificar as condições de trabalho de policiais — estrutura,  logística e material. O objetivo é que, a cada semana, uma instituição seja inspecionada no estado. O 14º BPM foi escolhido por tratar da área da Vila Kennedy, onde as Forças Armadas atuam desde a semana passada. O modelo utilizado no local servirá de exemplo para outras ações de intervenção.
O coronel Roberto Itamar, defendeu transparência. “Temos por objetivo não esconder nada. O sigilo da operação não é desejável. Queremos que as polícias liderem o processo e queremos ajudar a encontrar a solução para os problemas, como falta de manutenção de viaturas, falta de pessoal e equipamentos para o exercício pleno das funções”. Segundo ele, o gabinete trabalhará com afinco e dedicação até o término do decreto e, ao final, espera deixar um legado aos órgãos de segurança.

Na opinião do cientista político da Universidade de Brasília (UnB) Antônio Testa, os militares têm todas as condições para enfrentar o crime organizado, desde que os papéis estejam devidamente esclarecidos. “O combate ao crime organizado é uma guerra, mas os militares estão lotados no lugar de policiais. Enquanto não se definir o verdadeiro papel deles, não haverá resultado positivo. É como enxugar gelo. Tem que mudar a lógica jurídica. Os criminosos são muito mais bem armados do que a polícia. Os militares precisam de autonomia para vencer. Ou enfrenta como uma situação de guerra ou não enfrenta”.

Para ele, a morte da vereadora é uma retaliação das milícias e da “banda podre” da Polícia Militar. “Lá na frente o crime organizado vai dizer que venceu, que nem o Exército pode com eles. No ano que vem, um novo governador e um novo presidente assumirão. Ninguém sabe se vão manter a intervenção ou não. Quem ganha com isso são os bandidos. Tem que revisar a legislação contra as drogas no sentido de que quem pratica um crime variavelmente menor está preso e quem trafica toneladas está solto. Também tem que ter um esforço maior para controlar a fronteira”, finaliza.

Na mesma noite da morte de Marielle, um homem foi assassinado durante um assalto no Cachambi, na Zona Norte do Rio. Segundo a Polícia Militar, o crime ocorreu por volta das 19h40. Ele foi morto na frente do filho de 5 anos, após os criminosos tentarem roubar a Toyota Hilux da vítima. Eles  fugiram no veículo e foram perseguidos por policiais até a favela do Jacarezinho, a poucos quilômetros do local do crime. A PM, no entanto, não pôde entrar na comunidade. O caso foi encaminhado para a Delegacia de Homicídios. Até o fechamento desta edição, ninguém havia sido preso.

Somente em janeiro, o aplicativo Fogo Cruzado registrou 668 tiroteios no Rio de Janeiro. Em fevereiro, o aplicativo Onde Tem tiroteio (OTT) revelou que o estado registrou 321 confrontos armados. Até março, 21 policiais militares foram mortos apenas neste ano.

Fonte: Folha de São Paulo

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